Nobel para a Telomerase – a enzima da imortalidade
celular
Desde os anos 30 que se
reconhecia uma função especial das extremidades dos cromossomas. As pontas dos
cromossomas estavam protegidas por estruturas a que se deu o nome de telômeros. O ADN não é totalmente
sintetizado cada vez que é de duplicado, perdendo seqüências todas as vezes que
as células se dividem.
Conseqüentemente, as divisões celulares
entrariam em declínio se não se repusessem as extremidades dos cromossomas.
Este problema (conhecido por “end replication problem”) foi solucionado por uma
hipótese revolucionaria proposta por Liz Blackburn: talvez houvesse nas células
uma enzima especializada para os telômeros que possuía o seu próprio molde.
Assim, após cada ciclo de replicação de ADN, a dita “Telomerase” sintetizaria
novas seqüências restabelecendo o tamanho prévio dos cromossomas.
Mas qual é a relevância deste
estudo interessante vindo da ciência fundamental? A relevância veio quando se
verificou que a Telomerase estava entre os fatores que distinguem as células
tumorais das células normais que lhe deram origem. São extremamente raros os
marcadores moleculares comuns a todos os tipos de cancro e a Telomerase é um
deles. Estudos clínicos mostram que 90%
de todos os tumores expressam Telomerase e provêm de células normais que
não a possuíam. Assim, a Telomerase pode ser utilizada como fator de
diagnóstico no despiste precoce do cancro.
Mas mais importante, a Telomerase
é hoje alvo de estudo de companhias farmacêuticas que pretendem inibir a sua
atividade em cancros. Possuímos vacinas e fármacos capazes de inibir a
Telomerase que já demonstraram grande eficácia na inibição da proliferação de
células tumorais. Esperamos com grande antecipação um tratamento que, ao
contrario de quase a totalidade das terapias correntes, terá como alvo
exclusivo as células tumorais, não induzindo a toxicidade generalizada no
organismo humano.
Quanto ao futuro?... Teremos
terapias baseadas na Telomerase para rejuvenescer o nosso corpo? Talvez... Mas
com toda a segurança teremos que aniquilar primeiro o flagelo do cancro, porque
esse – sem duvida – será a conseqüência da ativação desregrada da Telomerase em
células normais.
Pesquisadores da Universidade do
Sudoeste do Texas e da empresa de biotecnologia Geron fizeram foi usar a
Telomerase para multiplicar células normais sem que estas se tornassem
cancerosas.
Num estudo publicado na revista
britânica "Nature Genetics", o pesquisador Choy-Pik Chiu, da Geron,
relatou que as células cultivadas por ele já produziram 200 gerações, sem
apresentar sinais de câncer. Em geral, as células se dividem cerca de 80 vezes.
Em outro artigo da mesma revista Jerry Shay e Woodring Wright, da Universidade
do Sudoeste do Texas, disseram que as células normais imortalizadas com
Telomerase em seu laboratório se dividiram 280 vezes.
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